domingo, 25 de janeiro de 2015

E se eu partir?


Se eu sumir por definitivo, não precisa vir atrás, nem me querer ao seu lado, se não o fez quando eu estava aqui, tanto tempo a te esperar. Não quero que saias por aí querendo saber de mim, ter notícias minhas, nem queira me mandar mensagens, se não respondeu as tantas que te enviei. Nem adianta me ligar agora, se não o fez quando eu tanto esperei sua ligação, pois cairá apenas na caixa postal. Se por acaso eu sumir para sempre, não adianta se arrepender amargamente de não poder mais sentir meus carinhos, o quão doce é meu beijo, o afago dos meus abraços apertados, por não mais sentir o calor do meu corpo, por não ouvir mais minha suave voz, por me negar conversas olho a olho, por nem saber mais como é o meu sorriso apaixonada, tão pouco por não ter o prazer da perfeição do encaixe das nossas mãos, dos nossos corpos, do nosso fogo, do nosso sexo... Se quando te quis, você fugiu de mim, e enquanto eu me guardava apenas para ti, era em outros braços, em outra cama, que você estava. Então, se eu sumir, não deseje me falar tudo aquilo que você abafou consigo, se em todas as vezes que eu quis conversar, você me deu apenas seu silêncio. Não venha agora dizer que sente muito, se quando eu demonstrei e provei meu amor por ti, você nada fez além de fugir. Por favor, não me procure nas redes sociais, se durante tanto tempo que estive online, você preferiu ficar offline. Não perca tempo olhando meu blog ou outros, não constará novas postagens, nenhuma palavra de carinho dedicada a você, se quando eu escrevia, diferença alguma fazia. E quando eu sumir, quem ousará te enfrentar, te dar broncas, te fazer ver os erros e ainda admiti-los, quem irá ter paciência contigo e te ajudar a corrigi-los, quem ficará ao teu lado em todos os momentos sem cogitar nunca te deixar, quem te esperará sempre de braços abertos e sem questionar a demora, pronta para te dar colo, carinho, amor e a cuidar de ti, quem? Mas, e se eu partir, amanhã ou em um dia desses qualquer, por favor, não leve-me flores, você teve uma vida inteira para isso, e nem uma rosa me destes. Também não precisa chorar de saudade, se nunca fez questão da minha presença junto de ti, enquanto podias e fugias de mim. Peço-te que não se arrependas, por não ter me dito tudo o que queria, enquanto meus ouvidos suplicavam por tuas palavras e não eram pó. Se eu morrer amanhã, suplico que não toque minhas mãos frias, não se nunca tiver sentido-as quentes, tocando em ti. Se eu partir sem ti, imploro que não pense em como seria se eu estivesse viva, pois eu já estive, e não fizestes diferente. Na minha partida, por favor, não diga que me amas, nem que "fui" importante e/ou especial demais para ti, eu já não ouvirei isto. Não leia algo meu, se a saudade bater forte, se nunca tiver lido antes. Só veja fotos minhas se isso fizer bem a sua alma, mas não se arrependa de nunca ter pousado ao meu lado. Chore, apenas se isso lhe trouxer alívio, se eu lhe tiver sido boa, mas não chore se não tiver sido comigo. Se eu partir, não enlute, não se não tiver lutado comigo, enfrentado as batalhas diárias ao meu lado e vivido momentos êxtase comigo. Por favor não se surpreenda, pois a partida e a morte é consequência de estar vivo, e eu vivi por ti, para ti, e muito tentei viver contigo. Se, por acaso, eu morrer amanhã, não olhe profundo para mim, dormido eternamente, lembre-se apenas do meu derradeiro olhar, do meu ultimo sorriso pra ti e das coisas boas ou ruins que eu fiz, por ti e para ti, tentando te fazer feliz. Guarde apenas o que foi bom. Se eu partir, peço-lhes com toda a força do meu ser, que não me queira ver, não me queira escrever, não me queira despedir... Só que aceites, como cumprimento do meu dever, que respeites a ideia de que serei silêncio profundo, lembranças doídas e pó eterno, que tu entendas que o que fora feito, dito ou vivido estará trancafiado num tempo chamado passado, que debruça-se pouco a pouco no esquecimento e que já não flui, não volta, não muda, não vive, não vê... E rogo a ti que sigas em frente, na certeza absoluta, de que muito te amei e que por vaidade ou egoísmo, nunca valorizou. Tudo o que restará, como essência dos teus dias, são as lembranças minhas, a única flor rara, no jardim tão espinhoso da tua vida. A trilha sonora a te acompanhar. E em pensamentos, voltarás no tempo, relembrarás nossa vida, vida nossa que era só minha, e analisarás milimetricamente meus gestos, e por fim, desejarás trocar todos os "não" que me destes por um "sim", mas será apenas ilusão, eu não mais estarei aqui contigo, para mudar o presente, por mais que eu tenha tentado... Eu serei para ti, como um desenho na areia, que aos poucos o vento, há de apagar.



Autora: Daiane Vieira.
Música de Fundo: Despedida - Roberto Carlos
Ilustração: Google Imagens.